Pensamentos desnecessários e a vida como ela é

É comum todos nós buscarmos a paz ou a simplicidade. Mas o mundo a nossa volta nos incentiva a batalha e conflitos: “Mova-se. Isso ou aquilo é injusto e você não pode ficar parado”, “Seja inseguro. Estamos mergulhados em uma crise e o futuro é incerto”, “Sinta culpa. Com tanta gente sofrendo, como você pode ser feliz?”, “A vida é uma luta, se você parar, você é um fracassado”.

 

No mundo animal, não há necessidade de ser diferente do que já é ou de conquistar mais do que é necessário ou se tem. A chuva, as estrelas, o sol ou a lua, uma formiga ou a leveza de uma pássaro – tudo isso simplesmente é.

Tudo é uma questão de ponto de vista. Meias, toalhas e roupas espalhadas pelo quarto ou casa, pode ser motivo de muitas brigas e até o fim de uma relação. No entanto na visão do cachorro de estimação, todas estas peças pelo chão não seriam motivos de problemas e sim de grande alegria e brincadeiras. A pureza ainda está preservada dentro dos animais, características que tínhamos em nossa infância e nos esquecemos ao longo da vida. Ao relaxar a mente, podemos resgatar e reaprender a desfrutar da felicidade sem causa e simplicidade perdida.

Muitas vezes nos afastamos ou ignoramos as pessoas que fazem parte de nossas vidas, não sabemos ao certo se queremos permanecer com ela ao nosso lado ou se desejamos estar com outra pessoa, muitas vezes nos perdemos em pensamentos relacionados se e até quando este relacionamento vai durar e por ai vamos nos perdendo cada vez mais. Os resultados dessas inquietações é que, quando nos preocupamos com o que queremos ou não de alguém ou com o que aprovamos ou não nessa pessoa, deixamos de ver sua bondade, sua astúcia, sua delicadeza, sua tristeza ou seja lá o que for que ela tenha a oferecer. Isso complica desnecessariamente as nossas vidas e bloqueia a alegria de viver e a paz de espírito.

Nós nos acostumamos com as coisas e não damos a devida importância para ela. Olhamos para as coisas como se fossem fúteis ou simplesmente não observamos seu verdadeiro valor. Os que tem água encanada em casa, abrem diariamente suas torneiras para tomar banhos, lavam pratos ou escovam os dentes e não se dão conta da benção que é ter água disponível para estas atividades. Quem nunca viu o mar ou um grande rio, ficaria encantado ao ver tanta água disponível, mas normalmente quem tem acesso a estas belezas da natureza em seu dia a dia, costuma não perceber a devida beleza ou importância da mesma.

Uma pequena história vai nos ajudar a compreender melhor o que estou falando.

Trata-se de uma criança, o pai e o caminhão:

Uma criança de dois anos estava na calçada com seu pai, esperando o sinal abrir, quando um caminhão enorme começou a virar a esquina bem no instante em que o sinal ficou verde. Enquanto o pai esperava o caminhão passar para atravessar a rua. Nesse momento, ouviu o filho dizer: — Caminhão grande! Ao olhar para criança,

O pai percebeu que seus olhinhos estavam brilhando de prazer. E ao olhar novamente para aquele enorme caminhão que passava tão perto que poderia tocá-lo se desse um passo à frente. O pai finalmente, viu o caminhão em toda sua majestade. Parecia a nave de um filme do tipo Guerra nas Estrelas. Ele não havia percebido isso antes. Talvez porque estivesse pensando que aquele caminhão não deveria estar ali atrapalhando seu caminho, ou que eu tinha algo bem mais importante a fazer do que esperá-lo passar. Esses pensamentos impediram que ele aproveitasse o prazer daquele momento, de pé, na calçada, ao lado de seu filho, segurando sua mãozinha. Isso é o que quero dizer com pensamentos desnecessários — o tipo que as criancinhas têm pouquíssimos, se é que têm algum, e, por isso, em geral, são objetivas e felizes.

Uma mente tranquila vê o que está aqui. Uma mente ocupada vê o que não está aqui. Aquele que está presente é nada mais, nada menos, do que aquele que está presente. Portanto, você pode pensar o que quiser sobre as pessoas, mas saiba que isso não vai transformá-las.

Nossa vida é cheia de batalhas inúteis exatamente porque nossa mente é cheia de pensamentos inúteis. Sofremos por histórias infelizes do passado como se elas ainda estivessem acontecendo e temos o hábito de ficar ruminando sobre o que acabamos de fazer. É preciso esvaziar a mente. Quando não conseguimos nos desvencilhar dos pensamentos negativos, eles diminuem nossas chances de ser feliz.

É o caso da sogra que não consegue aceitar seu genro porque ele tem costumes, valores financeiros, crenças e se veste diferente da família. Ela está apenas atacando sua própria capacidade de amar. Sua rejeição não mudará o genro, nem o amor que sua filha sente por ele — apenas a afastará do amor da filha.

Uma frase que resume bem o que estamos falando e me inspira muito é: “Faça com que seu estado mental seja mais importante do que o que você estiver fazendo.”

Pense bem: Navios não afundam por causa da água ao redor deles. Navios afundam por causa da água dentro deles. Não deixe o que está acontecendo em torno de você invadir seu interior e afundá-lo.

Um dos nossos maiores erros é deixar as circunstâncias serem mais importantes do que o nosso estado de espírito. Agora, para reverter isso, é preciso desbloquear a mente e podemos começar a fazer isso em 3 etapas:

Primeira: Para eliminar o que impede a experiência de plenitude e paz, você precisa examinar o impedimento.

Imagine que no meio de um trabalho que você julga importante, seu companheiro ou companheira, pede para você fazer alguma coisa por ele naquele mesmo instante. Talvez você fique irritado porque o outro está interrompendo seu trabalho. Se você aprofundar no sentimento talvez encontre um pensamento que esteja dando origem a este conflito: “Eu não deveria ter que fazer o que não quero fazer.” Se parar para pensar um pouco mais, talvez perceba que faz as coisas que não quer fazer o tempo todo e por isso existe um acúmulo desta angústia em você. Talvez, neste caso específico, você poderia parar um pouco para ajudar seu companheiro ou companheira que precisa de você naquele momento.

O que ajudou a compreensão esta situação foi voltar-se para si ao invés de desejar que o outro ou a situação mudassem.

Sempre que desejamos que as pessoas mudem ou que as circunstâncias nos sejam favoráveis, estamos, de alguma forma, nos eximindo da responsabilidade por nosso estado mental. É como se assumíssemos o papel de vítimas e ficássemos torcendo para sermos poupados. Quando o objetivo é manter o senso de integridade, independente do que acontecer à nossa volta, não nos tornamos vítimas. Nada fica “fora de controle” se quisermos. Somos nós que deixamos as pessoas e as situações serem quem são e o que são. Isto não quer dizer que aprovamos a maneira como se comportam e também não significa que deixamos que elas nos atropelem.

Não sei se você já percebeu a frequência com que os motoristas se colocam em risco só para dar uma liçãozinha a um outro motorista. É comum acelerarem para mostrar ao outro que não é correto mudar de pista, ou grudarem atrás de quem está indo muito devagar ou mesmo não deixarem espaço para aquele carro que forçou a entrada bem na sua frente depois de uma ultrapassagem perigosa. Esses “justiceiros do trânsito” são exemplos clássicos de vítimas. Só ficam satisfeitos se os outros motoristas demonstrarem que entenderam o recado. O problema é que pressionar os outros motoristas não muda seus corações. Apenas cria um conflito, que divide a mente e confunde as nossas emoções. Ninguém em tempo algum se tornou mais sensível ou mais ponderado por ser maltratado ou atemorizado.

 

Segunda: Para superar o bloqueio, você precisa ter muita clareza do que quer.

Esta etapa parece fácil. Afinal, você gostaria de atender o pedido de seu companheiro ou companheira, terminar seu trabalho, independente da ordem dos fatores e estar em paz.

Se você der o verdadeiro valor a estar em paz, verá que ela é muito mais importante do que os pensamentos que a estava bloqueando-a.

Terceira: Para atingir a plenitude, você deve reagir a partir da mente íntegra, não da mente em conflito.

Esta etapa parece mais difícil. Para começar, é preciso descobrir a plenitude que existe dentro de cada um de nós. Que todos nós a possuímos é fato, mas trazê-la à tona é outra história. Em geral, nos sentimos em paz quando estabelecemos uma ligação gentil e amorosa com as outras pessoas. Mas, se a mente arrisca um pensamento perturbador e se as duas primeiras etapas desse processo não forem realizadas com sinceridade, corre-se o risco de escorregar e cair novamente no velho estado mental conflitante.

Para evitar esse risco é preciso agir com pureza de alma. Será que sinceramente desejamos a paz aos que estão à nossa volta? Será que sinceramente desejamos uma mente que conheça a serenidade e que tenha uma profunda ligação com nosso parceiro (a), com nossos filhos, pais, irmãos e amigos? Ou seria melhor resguardar nosso coração e permanecer em posição de julgar e de estar sempre com a razão?

Neste ponto, a terceira etapa pode se tornar um tanto complicada, especialmente se surgir a tentação de controlar nossas emoções mais destrutivas e impulsos mais sombrios. Esses sentimentos de fato exigem controle, mas a verdade é que não se está em guerra com as circunstâncias ou comportamentos e pensamentos.

E exatamente o contrário. Quando se está numa batalha inútil, o melhor a fazer é abandonar o campo de batalha.

Uma boa ilustração de como isto funciona está na maneira como sentimos o amor. Nos relacionamentos amorosos, todo mundo deseja encontrar alguém carinhoso, que compartilhe seus interesses, que satisfaça suas necessidades, que só tenha olhos para você e o adore até a velhice. Infelizmente, isso não funciona, como demonstra a crescente taxa de divórcios.

A razão pela qual um bicho traz felicidade a seu dono, um filho a seus pais e uma mulher a seu marido, é que sentimos amor. Quando não se ama, o mais dedicado bichinho, planta, filho ou amante não tocará o nosso coração. Simplesmente não funciona assim. Por milhares de anos, nos disseram que o amor é maravilhoso.

A maioria das pessoas acredita que ser amado é uma sensação maravilhosa. E é. Mas, antes de você conhecer “o amor”, é preciso amar. Quando se ama, você recebe mais do que a sensação de ser amado.

Encontramos casais muito idosos que, obviamente, não são mais atraentes como eram, mas conseguem enxergar e sentir a beleza do amor.

Para que isto aconteça, basta acessar sua mente amorosa e tranquila — não a mente ocupada e fragmentada.

Saiba que ninguém passa diretamente de uma abordagem conflitante para uma de pura unidade e paz. Para ser realista, fazer o melhor possível hoje já é ótimo. Basta um pequeno progresso a cada dia, afinal, é o rumo que importa. Este é, sem dúvida, um objetivo mais estimulante e mais produtivo do que tentar a realização total e plena.

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